O que mais a fascina nesses projetos? Enquanto professora e investigadora, que ideias poderia partilhar com sujeitos em formação, ideias que, no seu entender, são pertinentes para o futuro dessas pessoas?
Temos uma rede ampla e a minha maior satisfação é ver que essa rede se prolonga para além deste período e vários continuaram a cooperar já depois do doutoramento concluído, continuam a trabalhar em rede, o que me dá uma grande satisfação. Nada melhor para mim que ver os doutorandos que orientei a produzir, a crescer e a atingir posições de destaque.
Não se trata do trabalho de um ano, mas sim de muitos anos que estão a dar frutos! A capacidade de atenção e gestão dos doutorandos, a preocupação em apoiá-los através de reuniões regulares, e-mail ou WhatsApp em grupo, ajuda a resolver alguns problemas complexos para eles, com o quais iriam gastar muito tempo e, ainda, são estimulados a seguir em frente, procurando contribuir para o percurso individual no momento em que eles precisam desse apoio.
| É importante criar redes de cooperação em que cada um contribui para o grupo e sobretudo em que os doutorandos e pós doutorandos se entreajudam, fazem formação, fazem recolha de dados e fazem produção científica em equipa. O grupo de investigação informal "Seminário de Investigação em Atividade Física e Saúde" faz parte das nossas rotinas, reúne semanalmente e, essas reuniões de grupo permitem que os doutorandos de todos os anos e os pós-doc se conheçam e é um espaço onde apresentem trabalhos para serem discutidos por todos. Partilhamos ainda a participação em congressos, são apresentadas as teses antes da apresentação formal e também existe um momento de orientação partilhada, todos são orientadores. Desenvolve-se um espírito de interajuda e apoio. Todos os convites que recebo para elaborar artigos e capítulos de livros são partilhados com os estudantes ou já doutores de maior proximidade ao tema que envolvendo o grupo. Foram 22 os doutorandos que orientei e, diria que a quase totalidade, os que estão a iniciar as suas carreiras, os que estão com carreiras consolidadas e os que já se aposentaram, continuamos a interagir sob o ponto de vista profissional mas também pessoal. Tenho(tive) doutorandos ou doutores de quatro continentes ainda que sejam maioritariamente portugueses e brasileiros.
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A Professora tem escrito alguns artigos sobre o envelhecimento do corpo docente. Qual a sua visão para os próximos 5, 6 anos.?
A Europa está envelhecida, Portugal é um país com baixa natalidade. As escolas, desde o pré-escolar até ao ensino superior viram decrescer o seu número de alunos sobretudo pelo trabalho a tempo integral da mulher e as reduzidas condições de apoio à maternidade.
O corpo docente do Instituto de Educação não tem contratado docentes e por isso estamos perante um duplo problema. Os projetos novos não podem avançar porque não há docentes novos que os "agarrem" e os desenvolvam e, consequentemente o corpo docente atual está envelhecido.
Os docentes estão tão sobrecarregados (múltiplas funções e aprendizagens constantes, novas exigências todos os dias) que lhes falta tempo e energia para iniciarem novos projetos. Felizmente, mediante esta epidemia do Covid-19 o corpo médico é bem mais jovem que o corpo dos docentes de Educação ou teria sido a tragédia total! Com um corpo docente como o nosso, provavelmente muitos não resistiriam. Ainda bem que todos os anos há entrada de novos médicos e enfermeiros e outros técnicos da saúde no Serviço Nacional de Saúde.
Os docentes aposentam-se e não são substituídos pelo que há cursos que precisam de contratar docentes para algumas especialidades, sem as quais o curso não poderá funcionar mas não se pode contratar.
O Ensino Superior é um espaço de especialistas e, sendo assim, porque é que não deve ter como objetivo a contratação de docentes para as especialidades em falta, para lecionar UC específicas e que fizessem também investigação nessas áreas? A contratação de especialista (vários especialistas a tempo parcial) colmataria algumas lacunas e melhoraria a qualidade do ensino e evitaria o encerramento de cursos. Seria fácil resolver? Não, mas o caminho seria da conquista de especialistas.
A Medicina é um bom exemplo, os docentes de carreira são essenciais mas há espaço para os docentes especialistas.
Hoje em Portugal, temos muitos doutores que poderiam colaborar com a Universidade que poderiam trazer novos conhecimentos e maior articulação com o contexto de outras instituições, o conhecimento das necessidades "o tecido empresarial". São algumas ideias, muito pessoais, uma olhar muito limitado sobre o problema do envelhecimento na formação de professores.